sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Diário de Road Trip - dia 8

Não houveram sons sexuais a impedir que eu adormecesse... mas fizeram com que acorde mais cedo, de manhã. Diferentes tenda, diferentes pessoas, diferente posição (a da tenda, em relação ao rio!), sons semelhantes.

Levantamo-nos e, depois de um pequeno almoço na vila, seguimos para a praia. A tenda fica para trás, estando nós seguros de que nada lhe irá acontecer.
É o último dia. O último dia de praia.
Resolvemos aproveitá-lo até ao fim, até àquela altura em que o sol ainda não se pôs, mas já não tem aquela força que tinha.
Um último molhar de pés, um último acariciar da areia, um último alourar dos pêlos dos braços... mas está na hora de ir embora. Voltar ao acampamento, tomar um duche e regressar à vila, que hoje não se faz jantar.

Um carro da G.N.R. segue à nossa frente. Cheira-me a esturro. Ele pára junto a um agrupamento de caravanas. Eu estaciono perto da nossa tenda.
Enquanto lancho, vou passeando próximo daquela reunião, tentando apanhar um pouco da conversa. Entendo o que se passa, com certeza, quando vejo mandarem uma auto-caravana recém chegada dar a volta e sair do espaço. Mesmo assim, faço-me de burro (ou apenas deixo cair a máscara).
- Boa tarde. Há algum problema?
- Ó amigo, há muitos problemas. (como eu adoro que me chamem "amigo")
- Okay, obrigado. - respondo, perante o silêncio que ficou. Viro costas e começo a dirigir-me para o carro.
- Você está cá, é?
- Não. Cheguei agora.
- Está de caravana?
- Não. Estou de tenda. - ainda me resta a esperança que eles só estejam chateados com as caravanas.
- Então já tem lá uma notificação.
Iria haver nova visita à noite. Iriam haver multas, iria haver confusão com os coitados que não sabem ler português e que ainda julgam que a guarda anda a distribuir textos de boas-vindas aos turistas.

A resolução é simples. O sol já quase se pôs. Arrumamos tudo, tomamos um duche e seguimos à procura de um restaurante.
Apesar de tudo, a situação é hilariante. Depois de uma semana a aventurar-mo-nos por caminhos desconhecidos, a dormir no meio do nada, ou no meio de muita coisa, a tomar banho debaixo de uma árvore, a fazer o jantar à luz da lanterna, a única coisa a correr mal foi acontecer na última noite e trazida não por bandidos nocturnos, mas por agentes da autoridade com muita razão no que toca à lei, mas com atitude digna de enjoo.

Jantamos. Regressamos ao norte. A casa.
Dizemos adeus à praia, à noite, às estrelas, à falta de quase tudo mas à presença de muito mais do que isso. Sorrimos com um grande superar de expectativas, limpamos as lágrimas dos olhos que aparecem com tanto riso.
Dizemos adeus a mil seiscentos e cinquenta quilómetros de road trip. Vamos dizendo olá à próxima.

20.08.2014




4 comentários:

Aceitam-se pires de amendoins.