Domingo nas ruas da aldeia que é cidade capital, que esquece o trânsito por umas horas e que torna os rios de carros em pontes para gentes.
Eu sigo sozinho, perdido na Graça, e ela sozinha segue, com objectivo definido. Eu envergo um fato-de-treino meio suado, caminho em passo ligeiro e esforço-me por manter as costas direitas, porque sei que tenho uma postura errada. Ela leva um xaile amarrado à cintura, dá os passos lentos, tão depressa quanto consegue e as suas costas estão tão curvadas pela idade, que não consegue sequer olhar em frente.
Tem idade para bisnetos. Talvez não os tenha.
Tem idade, aspecto e possivelmente saúde para ir de mão dada com a morte. Mas vai sozinha.
Tem o peso do mundo em cima de si. Há anos que não vê muito mais que o chão que pisa de forma fraca.
Mas é Domingo. E tem duas flores cor-de-rosa no cabelo. E segue sozinha porque tem idade para ter o mundo só seu e não é ele que tem o seu peso em cima dela, é ela que olha de cima para ele.
E eu sorrio e desejo um dia ter mesma vida que ela teve para colocar aquelas duas flores.
Sim! Aquela história da vida cheia de anos vs. Anos cheios de vida. *
ResponderEliminarSim! Aquela história da vida cheia de anos vs. Anos cheios de vida. *
ResponderEliminarUma vida com duas flores no cabelo... isso diz muito!
EliminarTão bonito :)
ResponderEliminarQuando era pequenina e via as velhotas da minha rua assim, super encurvadas a olhar o chão, pensava para mim "será que estão à procura de moedinhas da sorte?"
(era mesmo muito pequenina...)
Será que alguma delas apanhou uma moedinha?
EliminarCoisa linda :)
ResponderEliminarVida linda.
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