terça-feira, 12 de abril de 2016

Retiro

""Muitas pessoas dizem que se tens uma família és menos solitário e tens mais segurança. É verdade?" Allen acenou e balbuciou algo suavemente. Mas eu entendi.
Então o Allen disse, "Descobri uma maneira de ter muito mais tempo. No passado, costumava olhar para o meu tempo como se fosse dividido em várias partes. Uma parte eu reservei para o Joey, outra parte para a Sue, outra parte para ajudar a Ana, outra parte para trabalho em casa. O tempo que sobrava eu considerava-o meu. Podia ler, escrever, pesquisar, caminhar.
"Mas agora eu tento já não dividir  o tempo em partes. Considero o meu tempo com o Joey e a Sue como o meu próprio tempo. Quando ajudo o Joey com o trabalho de casa, tento encontrar maneiras de ver o seu tempo como o meu tempo. Revejo a aula com ele, partilhando a sua presença e encontrando maneiras de me interessar pelo que fazemos durante aquele tempo. O mesmo com a Sue. O que é fantástico é que agora tenho tempo ilimitado para mim!""

Tradução livre de um excerto do livro "The Miracle of Mindfulness: An Introduction to the Practice of Meditation", de Thich Nhat Hanh.


Há uns dias atrás, levado por uma estrela na Terra, passei um fim-de-semana num retiro espiritual.
As expectativas eram quase nulas, e a minha perspectiva era de aventura. Sempre tive curiosidade no tema "retiro" e, aparecendo a oportunidade, agarrei-a. O programa incluía yoga, meditações e partilhas, tudo coisas nas quais a minha experiência era ao nível das expectativas.
Acredito muito no poder da mente e nos efeitos que a auto-sugestão pode ter numa pessoa, mas o que se passou naquela casa, perdida no meio do campo, foi muito além disso.
Dei por mim a partilhar todas as minhas horas com pouco mais de uma dezena de totais desconhecidos, de várias idades, diferentes experiências de vida, diferentes problemas, diferentes níveis de felicidade, de realização, diferentes sentimentos. E dei por mim a, contrariamente ao que sempre foi a minha vida, não sentir falta de um tempo só para mim.
Um fim-de-semana que pareceu um mês e, ao mesmo tempo, passou demasiado rápido. Horas e horas em que o desconhecimento se transformou em amor e em que a vulnerabilidade da exposição se transformou na força da aprendizagem.
Três dias que são difíceis de descrever mas que me confirmaram, mais uma vez, que as coisas acontecem porque têm que a acontecer, pre-ci-sa-men-te quando têm que acontecer.
Três dias que se resumem a um sentimento de gratidão imenso e que foram, todo o tempo, tempo ilimitado para mim.

7 comentários:

  1. Gostava muito de experimentar um desses também... as aulas de yoga já me fazem sentir um bocadinho como descreves, imagino o poder que um fim-de-semana inteiro não terá.

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    1. O yoga foi apenas um pouco de manhã, uma espécie de preparação para o dia. Eu adorei a experiência e, podendo, hei-de repetir!

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  2. Que lindo texto!
    Adorei as tuas palavras.
    Feliz por fazeres parte desta boa recordação e por fazeres parte deste caminho.
    Grata pelo testemunho!

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  3. Que lindo texto!
    Adorei as tuas palavras.
    Feliz por fazeres parte desta boa recordação e por fazeres parte deste caminho.
    Grata pelo testemunho!

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  4. Vanessa "estrelinha" Figueiredo1 de maio de 2016 às 10:07

    Nada é por acaso, meu Pi :)
    E como sei que as palavras escritas nunca se perdem, aproveito para dizer o quanto gosto de ti, o quanto a nossa partilha de afetos é mesmo genuína, o quanto eu te amo!
    E, roubando as palavras de alguém, "tenho plena consciência disso" ❤️

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Aceitam-se pires de amendoins.