segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O medo dos putos... ou os putos do medo... ou o puto do medo dos putos

Coisas que me atormentam... medos... tenho alguns. Envelhecer sem consciência disso, ser enterrado vivo, feridas no eponíquio, morrer com dor, centopeias próximo da minha cara... Mas estes são medos pontuais, chamemos-lhes assim. Lembro-me deles de vez em quando, apesar de, como qualquer medo, serem uma presença constante. No entanto, há um receio que mexe mais profundamente comigo. Tal como os outros, não penso nele a toda a hora, mas quando penso, afecta-me mais profundamente. Talvez porque, no fundo, é algo menos inevitável do que os outros que referi.
Não saber criar um bom ser humano.

Gosto de crianças. Quero e espero um dia ter filhos. Não é propriamente um sonho... chamar-lhe-ia mais um gosto. Contudo, há algo que me assusta: a possibilidade de eu ser incapaz de criar alguém que, quando adulto, seja uma boa pessoa, com bons valores e uma cabeça que saiba pensar por si própria e julgar com justiça a vida que tiver.
Talvez na altura de ter a criança, haja um instinto primário qualquer a acordar em mim que me guie na direcção certa mas, até lá, o pensamento é sempre cheio de "e ses" e "como é que...?". À minha volta vejo um número crescente de crianças mal-criadas, adolescentes problemáticos, adultos que balem em vez de falar. 
Não é que me ache a melhor pessoa do mundo (longe disso), mas ao menos tenho essa noção (já não é mau!). Como filho, acho que nunca dei grandes problemas, apesar de os meus pais terem sido tão permissivos. Podia achar que era esse facto, mas conheço outros filhos de pais permissivos que foram autênticas dores de cabeça. Penso que tem que haver um equilíbrio entre a liberdade e a disciplina, e também receio não saber onde me colocar entre esses dois.

Espero que, pelo menos, no futuro um filho meu me olhe da mesma maneira que eu olho para os meus pais. Seria feliz, se assim fosse.

Talvez na altura de ter a criança, haja um instinto primário qualquer a acordar em mim que me guie na direcção certa mas, até lá, acho que vou pedir à minha mãe umas aulas de "Olhar ameaçador que, com um pouco mais de esforço, facilmente se transforma em raios laser mortais".

21 comentários:

  1. lol um dia acordas e tens um manual de instruções na cabeça =)
    Acho que tudo corre como deve correr com mais ou menos complicações. O importante é a transmissão de valores e ter noção que existem algumas fronteiras... Sou a favor de liberdade mas liberdade acompanhada de conhecimento para conseguir tirar partido dessa liberdade de forma consciente. O resto é sonhar e deixar sonhar =)

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    1. Deve ser isso. Mas essa do "correr como deve correr" não sei se me convence... senão haveriam menos casos em que as coisas correram mal (e vamos evitar entrar no jogo dos grandes desígnios do universo e do direito por linhas tortas).
      A minha questão é mesmo essa: será que saberei passar valores? Enfim... é sonhar, deixar sonhar... e esperar.

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    2. tu basicamente forneces as ferramentas e eles escolhem o próprio caminho... Depois obviamente que não existe nada perfeito. Quando mais relaxado e natural as coisas correrem, melhor (para não teres um esgotamento ou dois). Por isso não te preocupes e bebe uma coca-cola, acompanha com uns amendois e quando as crianças chegarem terão um pai feliz e relaxado pronto para as aturar =)

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    3. E quem se portar mal fica proibido de comer amendoins! (acho que sob esta ameaça criarei os filhos perfeitos)

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  2. "Talvez na altura de ter a criança, haja um instinto primário qualquer a acordar em mim que me guie na direcção certa" - acho que é aqui que está o segredo.
    Muito de vez em quando também tenho medos desses, principalmente porque nunca foi um sonho meu ser mãe, e dá-me aquele friozinho do "não sei se isso vai querer dizer alguma coisa no momento de o ser".

    De qualquer das formas, tenho a dizer que já vi muitos exemplos de pais fantásticos, que dão uma educação de excelência aos filhos e depois esses mesmos filhos são uma bostinha quando crescem... Sem caracter, demonstrando não ter qualquer tipo de bons valores. Por isso, não penses muito nisso... se o teu filho vier "programado" para fazer asneiras, vai fazê-las, quer o eduques bem, quer não :p

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  3. Talvez seja mesmo esse o segredo. Até lá, nunca saberei...

    E obrigado pelo teu último parágrafo. Foi mesmo o que eu precisava para o meu medo ficar ainda mais profundo (não fosses tu a Lia...não é?!).

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    1. Há coisas que simplesmente não precisam de ser agradecidas *.* é sempre um gosto 'debater' contigo :p

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  4. "Espero que, pelo menos, no futuro um filho meu me olhe da mesma maneira que eu olho para os meus pais. Seria feliz, se assim fosse."

    Mantém sempre isto presente :) Eu não tenho dúvidas que vais ser um fantástico pai e que eles vão amar-te facilmente *

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    1. Terei isso em conta. Ou pelo menos, espero ter, chegando à altura. E eu não me importo que os meus filhos não me amem, desde que seja por uma boa causa. Sabe-se lá no tipo de pessoa que serei daqui a uns anos... trininini trininini trininini

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  5. Eu não penso nisso. Mas uma coisa que aprendi ao olhar para mim e os meus pais é que nós aprendemos com os exemplos. Portanto, os teus filhos irão aprender ao imitar-te. Se aplicares essa disciplina em ti, a coisa deve passar naturalmente para eles.
    Por exemplo, quando era pequeno os meus pais diziam que era importante fazer desporto, mas eu nunca os vi a fazer desporto ou qualquer exercício físico. Hoje tenho consciência que devia ter feito desporto quando era pequeno e não chorar para que me tirassem de lá. Se os meus pais tivessem-me mostrado o exemplo a coisa tinha corrido melhor.

    Além disso, a educação das crianças também depende do meio envolvente (escola, amigos, etc...).

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    1. Acho que os meus pais fizeram (de forma consciente ou não) foi um misto de exemplos com falta deles. Não falta deles no sentido de desleixo, mas no sentido de me darem liberdade para me desenvolver por mim próprio. E, se calhar, o meu maior receio é "o que é que o puto vai fazer com a liberdade que lhe darei?".

      E tocaste noutro tópico importante: o meio envolvente extra-casa. É um perigo! Os putos de hoje em dia são o terror! A força dos pares é cada vez maior! Medo!

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    2. Pois, essa é a parte que não dá para controlar. O mínimo que se pode fazer é escolher a escola mais jeitosinha.

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    3. Sim porque os americanos têm a mania do homeschooling e dá no que dá...

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  6. Eu acho um óptimo sinal teres consciência do quão complexo será o processo, até porque não depende exclusivamente de ti. A personalidade da criança, futuro adulto também terá o seu peso :)

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    1. Eu só pedia que nascesse com a personalidade do pai! :P

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  7. Eu espero ser boa mãe como os meus pais foram para mim. A realidade é que quem mais se acha futuro bom pai ou mãe sao aqueles que se esquecem de transmitir o básico. Tomam como adquirido. Os mais inseguros quando a se serão bons esforçam-se e são. Não te preocupes que vais ser bom

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    1. Gosto dessa teoria. Deixa-me mais descansado. Nunca tinha pensado nisso... de facto, a preocupação irá quase obrigatoriamente gerar um esforço.

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  8. Assusta-me a ideia de ter um filho não tanto pelas minhas capacidades de o educar mas pelo mundo que vai encontrar. Não saber se terá água potável, se terei dinheiro para lhe dar estabilidade emocional (não é preciso muito mas é preciso algum), se não estará, em breve, tudo isto em guerra... corrupção, violência, drogas, enfim, a sociedade sempre teve problemas mas acho que até aqui estávamos a evoluir e, infelizmente, hoje estamos a regredir em muitos aspectos, o que me deixa muito de pé atrás com a ideia (para além das dores e de engordar, claro :p).

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    1. O meu medo em relação a possíveis futuros filhos prende-se mais com as minhas capacidades e não com o resto do mundo porque, simplesmente, se eu vir que o mundo está a descambar, não tenho o filho. Ponto final.
      Se os meus óptimos genes tiverem que morrer comigo, que assim seja. Quem perde é o mundo! :P

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  9. eu não gosto muito de crianças e não quero ter filhos. as pessoas acham sempre muito estranho mas eu não acho, cada um vive a vida como quer, não é? a única fobia que tenho... são as baratas. lol

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    1. Acho estranho as pessoas acharem estranho uma pessoa não querer ter filhos. Parece que é uma obrigação divina qualquer! Mas vá, desde que não te abordem com conversas do tipo (e isto é verídico) "Não achas que os teus pais vão querer ter netos?"

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Aceitam-se pires de amendoins.