terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A mera existência

Passamos a vida a viver, a sobreviver, a aproveitar, a querer aproveitar, a lamentar quando não se aproveitamos e a aumentar o peso da consciência quando nada se faz para se fazer qualquer destas coisas.
O mundo diz-nos que temos que viver a vida. Carpe diem. Socializar. Conhecer. Aprender. Ensinar. Treinar. Comer. Beber. Criar. Memorizar.

Um tempo de tudo, tudo, tudo em que a presença do nada é não menos que negativa para esta nossa pequena estada no lado vivo da existência (se é que há outro lado da mesma). E com isto tudo esquecemo-nos de ser básicos. Não básicos no sentido de mentalmente ausentes, mas no sentido de primários. De, como seres humanos, nos desligarmos gradualmente de todas as capas de civilização, e de vida, e de experiências que nos cobrem. Esquecemo-nos de existir.
Passamos a vida a viver para fora de nós e esquecemo-nos de existir dentro de nós. Queremos tanto viver tudo o que há do lado de fora da epiderme, que nos esquecemos que também podemos viver do lado de dentro. Ignoramos que o nosso cérebro é mágico e que a criatividade é algo que vem de dentro e que não consegue sair se nos deixarmos bombardear constantemente pelo que está por fora.

A vida é, realmente, feita de pequenos prazeres. E se há coisa que me dá gozo é a pura existência. Estar deitado na cama, coberto de nada, às escuras e limitar-me a existir. Sem sono, sem vontade de dormir, mas de olhos fechados. Quanto muito, uma qualquer música hipnótica a tocar em baixo volume que, entretanto, começa a perder o sentido e a desaparecer perante a negritude do quarto e da minha visão ao passo que todo um outro lado meu começa a ganhar cor.
Melhor que isso, só um pires de amendoins e uma coca-cola fresquinha.

13 comentários:

  1. não podia concordar mais contigo... vivemos num ritmo acelerado com o desejo de ser tanta coisa ao mesmo tempo. O refúgio num mundo só nosso, por vezes, é a única salvação, e não deixa de ser uma forma de viver tão válida como as outras.

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    1. Há que haver um equilíbrio entre o tudo e o nada. O problema é que agora a sociedade obriga-nos ao tudo! As pessoas são mal vistas quando não aproveitam a vida e tudo o que acontece. Mas esquecem-se que a vida também pode ser muito mais do que eventos.

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  2. O eu que devia existir em primeiro lugar, o que nos deixa feliz, o que nos preenche, perde-se nas preocupações, tarefas, etc que temos que fazer no dia a dia. Como tu bem disseste: esquecemo-nos de existir. Mas lá está, há pequenos prazeres que nos fazem esquecer de tudo, para mim basta um livro interessante, que me consiga prender, que nem dou pelas horas passar ao ler...

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    1. Não quer dizer que a felicidade não chegue a nós através da vida que vivemos (e não da que não vivemos). A felicidade de cada um depende das suas próprias prioridades. Mesmo assim, o ser humano perde pouco tempo para estar consigo próprio, limitando-se a ser aquele pontinho minúsculo perdido algures no universo.

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  3. Ena pá! Acabou de descobrir a pólvora!

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  4. passei o domingo a ver sharknado com amendoins e coca cola. não podia querer mais :D

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    1. Acho que chegaste ao pico do prazer. Mais que isso, impossível!

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  5. "Passamos a vida a viver para fora de nós e esquecemo-nos de existir dentro de nós. " - indeed.

    (para mim podem ser só os amendoins - bem salgados - que de coca cola não gosto nem do cheiro :$)

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    1. Eu gosto dos amendoins normaizinhos. Tirar a casca e comer. Quero poder chegar ao que existe dentro dos amendoins, sem quaisquer máscaras de sal.

      P.S.: Lia a concordar comigo?! Weeee!

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    2. Fiquei à espera do fogo de artificio, Pi -.- não me desiludas :)

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    3. http://jamesladams.typepad.com/.a/6a013489b078da970c019104157680970c-pi

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Aceitam-se pires de amendoins.