sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Sexta-feira, o último dia das quarenta horas

""Então qual é a resposta?" 
"Livrarmo-nos dos pensadores inteligentes. Tirá-los do poder." 
"Mas aí perderíamos todos os avanços-"
"Que avanços?" disse Malcolm, irritado. "O número de horas que as mulheres dedicam às tarefas domésticas não mudou desde 1930, apesar de todos os avanços. Todos os aspiradores, máquinas de lavar, compactadores de lixo (...), tecidos lava-e-usa... Porque é que ainda demora tanto tempo a limpar a casa quanto demorava em 1930?"
Ellie não disse nada.
"Porque não houveram avanços nenhuns," disse Malcolm. "Não mesmo. Trinta mil anos atrás; quando os homens andavam a fazer pinturas nas cavernas em Lascaux, trabalhavam vinte horas por semana para se abastecerem com comida e abrigo e roupa. Com o resto do tempo, eles podiam brincar, ou dormir, ou fazer o que lhes apetecesse. E viviam num mundo natural, com ar limpo, água limpa, belas árvores e pôr-do-sol. Pensa nisso. Vinte horas por semana. Trinta mil anos atrás."
Ellie disse, "Queres voltar atrás no tempo?"
"Não," disse Malcolm. "Quero que as pessoas acordem. Tivemos quatrocentos anos de ciência moderna e devíamos saber para o que é boa e para o que não é boa. É tempo de mudar."
"Antes de destruirmos o planeta?" disse ela.
Ele suspirou e fechou os olhos. 
"Minha cara," disse ele. "Essa é a última coisa com que me preocuparia.""

in «Jurassic Park», de Michael Crichton (tradução livre).

2 comentários:

  1. Oh, as casas de antigamente tinham menos coisas para limpar ;)

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    1. Ahahaha. Eu à espera que este post fosse despertar o lado filosófico dos comentários e...
      Well...
      Não concordo. Agora a moda é o minimalista, os quadros sem molduras, os móveis com linhas rectas. Antigamente as superfícies tinham que ter a maior concentração de bibelôs possível e as mobílias tinham que ter rococós e patas de leão.

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Aceitam-se pires de amendoins.